Lourdes Castro nasceu no Funchal em 1930 e é uma das artistas portuguesas mais conhecidas, famosa pelo modo como trabalha as sombras e as suas possibilidades de materialização. Em 1957 passou uma temporada em Munique, tendo vivido em Paris de 1958 a 1983, ano em que regressou à Madeira. Logo em 1958, em conjunto com René Bertholo, começou a publicar a revista KWY, extinta em 1963 depois de 12 números publicados e algumas exposições nas cidades de Sarrebrucken, Lisboa, Paris e Bolonha. Nos anos de 61 e 62, a artista trabalhou muito com colagens e fez as primeiras sombras em serigrafia, tendo posteriormente experimentado outros materiais (mas sempre trabalhando com sombras). A partir de 1973 fez experiências com sombras em movimento – “teatro de sombras”. Expôs os seus trabalhos em países como Alemanha, Bélgica, Brasil, China, França, Holanda, Itália, Portugal, Reino Unido, República Checa e Venezuela. Recebeu a Medalha do Conselho Regional do Salon de Montrouge (Paris, 1995) e o Grande Prémio EDP (Lisboa, 2000) e está representada em diversos museus por todo o mundo." (inAssirio.com)
"A verdade é amor — escrevi um dia. Porque toda a relação com o mundo se funda na sensibilidade, como se aprendeu na infância e não mais se pôde esquecer. É esse equilíbrio interno que diz ao pintor que tal azul ou vermelho estão certos na composição de um quadro. É o mesmo equilíbrio indizível que ao filósofo impõe a verdade para a sua filosofia. Porque a filosofia é um excesso da arte. Ela acrescenta em razões ou explicações o que lhe impôs esse equilíbrio, resolvido noutros num poema, num quadro ou noutra forma de se ser artista. Assim o que exprime o nosso equilíbrio interior, gerado no impensável ou impensado de nós, é um sentimento estético, um modo de sermos em sensibilidade, antes de o sermos em razão ou mesmo em inteligência. Porque só se entende o que se entende connosco, ou seja, como no amor, quando se está "feito um para o outro". Só entra em harmonia connosco o que o nosso equilíbrio consente. E só o consente, se o amar. Porque mesmo a verdade dos outros — a política, por exemplo — se temos improvavelmente de a reconhecer, reconhecemo-la talvez no ódio, que é a outra face do amor e se organiza ainda na sensibilidade" (Vergílio Ferreira, in "Pensar")
"Não penses. Que raio de mania essa de estares sempre a querer pensar. Pensar é trocar uma flor por um silogismo, um vivo por um morto. Pensar é não ver. Olha apenas, vê. Está um dia enorme de sol. Talvez que de noite, acabou-se, como diz o filósofo da ave de Minerva. Mas não agora. Há alegria bastante para se não pensar, que é coisa sempre triste. Olha, escuta. Nas passagens de nível, havia um aviso de «pare, escute, olhe» com vistas ao atropelo dos comboios. É o aviso que devia haver nestes dias magníficos de sol. Olha a luz. Escuta a alegria dos pássaros. Não penses, que é sacrilégio." Vergílio Ferreira, in "Conta-corrente - nova série - 2"
"As mães são as mais altas coisas que os filhos criam, porque se colocam na combustão dos filhos, porque os filhos estão como invasores dentes-de-leão no terreno das mães. E as mães são poços de petróleo nas palavras dos filhos, e atiram-se, através deles, como jactos para fora da terra. E os filhos mergulham em escafandros no interior de muitas águas, e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos e na agudeza de toda a sua vida. E o filho senta-se com a sua mãe á cabeceira da mesa, e através dele a mãe mexe aqui e ali, nas chávenas e nos garfos. E através da mãe o filho pensa que nenhuma morte é possível e as águas estão ligadas entre si por meio da mão dele que toca a cara louca da mãe que toca a mão pressentida do filho. E por dentro do amor, até ser possível amar tudo, e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do amor."