sábado, 29 de maio de 2010

ar da noite

"No ar da noite a madrugar
Há uma solidão imensa
Que tem por corpo o frio do ar."
(Fernando Pessoa)

Lourdes Castro

Lourdes Castro nasceu no Funchal em 1930 e é uma das artistas portuguesas mais conhecidas, famosa pelo modo como trabalha as sombras e as suas possibilidades de materialização.
Em 1957 passou uma temporada em Munique, tendo vivido em Paris de 1958 a 1983, ano em que regressou à Madeira. Logo em 1958, em conjunto com René Bertholo, começou a publicar a revista KWY, extinta em 1963 depois de 12 números publicados e algumas exposições nas cidades de Sarrebrucken, Lisboa, Paris e Bolonha. Nos anos de 61 e 62, a artista trabalhou muito com colagens e fez as primeiras sombras em serigrafia, tendo posteriormente experimentado outros materiais (mas sempre trabalhando com sombras). A partir de 1973 fez experiências com sombras em movimento – “teatro de sombras”.
Expôs os seus trabalhos em países como Alemanha, Bélgica, Brasil, China, França, Holanda, Itália, Portugal, Reino Unido, República Checa e Venezuela. Recebeu a Medalha do Conselho Regional do Salon de Montrouge (Paris, 1995) e o Grande Prémio EDP (Lisboa, 2000) e está representada em diversos museus por todo o mundo." (in Assirio.com)


quinta-feira, 27 de maio de 2010

want some?!

a verdade é..

"A verdade é amor — escrevi um dia. Porque toda a relação com o mundo se funda na sensibilidade, como se aprendeu na infância e não mais se pôde esquecer. É esse equilíbrio interno que diz ao pintor que tal azul ou vermelho estão certos na composição de um quadro. É o mesmo equilíbrio indizível que ao filósofo impõe a verdade para a sua filosofia. Porque a filosofia é um excesso da arte. Ela acrescenta em razões ou explicações o que lhe impôs esse equilíbrio, resolvido noutros num poema, num quadro ou noutra forma de se ser artista. Assim o que exprime o nosso equilíbrio interior, gerado no impensável ou impensado de nós, é um sentimento estético, um modo de sermos em sensibilidade, antes de o sermos em razão ou mesmo em inteligência. Porque só se entende o que se entende connosco, ou seja, como no amor, quando se está "feito um para o outro". Só entra em harmonia connosco o que o nosso equilíbrio consente. E só o consente, se o amar. Porque mesmo a verdade dos outros — a política, por exemplo — se temos improvavelmente de a reconhecer, reconhecemo-la talvez no ódio, que é a outra face do amor e se organiza ainda na sensibilidade"

(Vergílio Ferreira, in "Pensar")

terça-feira, 25 de maio de 2010

terça-feira, 18 de maio de 2010

não penses

"Não penses. Que raio de mania essa de estares sempre a querer pensar. Pensar é trocar uma flor por um silogismo, um vivo por um morto. Pensar é não ver. Olha apenas, vê. Está um dia enorme de sol. Talvez que de noite, acabou-se, como diz o filósofo da ave de Minerva. Mas não agora. Há alegria bastante para se não pensar, que é coisa sempre triste. Olha, escuta. Nas passagens de nível, havia um aviso de «pare, escute, olhe» com vistas ao atropelo dos comboios. É o aviso que devia haver nestes dias magníficos de sol. Olha a luz. Escuta a alegria dos pássaros. Não penses, que é sacrilégio."

Vergílio Ferreira, in "Conta-corrente - nova série - 2"

domingo, 16 de maio de 2010

sexta-feira, 14 de maio de 2010

sobre o caminho

"Nada

nem o branco fogo do trigo
nem as agulhas cravadas na pupila dos pássaros
te dirão a palavra

Não interrogues não perguntes
entre a razão e a turbulência da neve
não há diferença

Não colecciones dejectos o teu destino és tu

Despe-te
não há outro caminho"

(Eugénio de Andrade, in "Véspera da Água")

sábado, 8 de maio de 2010

quinta-feira, 6 de maio de 2010

quarta-feira, 5 de maio de 2010

domingo, 2 de maio de 2010

dia da mãe

"As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam na combustão dos filhos, porque
os filhos estão como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.
E as mães são poços de petróleo nas palavras dos
filhos,
e atiram-se, através deles, como jactos
para fora da terra.
E os filhos mergulham em escafandros no interior de muitas águas,
e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos
e na agudeza de toda a sua vida.
E o filho senta-se com a sua mãe á cabeceira da mesa,
e através dele a mãe mexe aqui e ali,
nas chávenas e nos garfos.
E através da mãe o filho pensa
que nenhuma morte é possível e as águas
estão ligadas entre si
por meio da mão dele que toca a cara louca
da mãe que toca a mão pressentida do filho.
E por dentro do amor, até ser possível
amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do
amor."
(Herberto Helder)

estrela do mar