quinta-feira, 28 de junho de 2012

identidade

"A identidade, como a pele, 
renova-se, perde-se de sete 
em sete anos, muda no mesmo 
corpo, torna diferente 
a permanência humana. 
A identidade é a soma 
das intenções, uma foto 
instantânea para um propósito 
imediato que não dura. 
A identidade é um equívoco 
para camuflar o coração." 

Pedro Mexia, in "Duplo Império"

terça-feira, 26 de junho de 2012

segunda-feira, 18 de junho de 2012

sábado, 16 de junho de 2012

estranhar.entender

"Surpreender-se, estranhar, é começar a entender. É o desporto e o luxo específico do intelectual. Por isso o seu gesto gremial consiste em olhar o mundo com os olhos dilatados pela estranheza. Tudo no mundo é estranho e é maravilhoso para um par de pupilas bem abertas. "

Ortega y Gasset, in 'A Rebelião das Massas'

sexta-feira, 15 de junho de 2012

quarta-feira, 13 de junho de 2012

pergunta

"Pergunta às árvores da rua 
que notícia têm desse dia 
filtrado em betume da noite; 
se por acaso pressentiram 
nas aragens conversadeiras, 
ágil correio do universo, 
um calar mais informativo 
que toda grave confissão. 

Pergunta aos pássaros, cativos 
do sol e do espaço, que viram 
ou bicaram de mais estranho, 
seja na pele das estradas 
seja entre volumes suspensos 
nas prateleiras do ar, ou mesmo 
sobre a palma da mão de velhos 
profissionais de solidão. 

Pergunta às coisas, impregnadas 
de sono que precede a vida 
e a consuma, sem que a vigília 
intermédia as liberte e faça 
conhecedoras de si mesmas, 
que prisma, que diamante fluido 
concentra mil fogos humanos 
onde era ruga e cinza e não. 

Pergunta aos hortos que segredo 
de clepsidra, areia e carocha 
se foi desenrolando, lento, 
no calado rumo do infante 
a divagar por entre símbolos 
de símbolos outros, primeiros, 
e tão acessíveis aos pobres 
como a breve casca do pão. 

Pergunta ao que, não sendo, resta 
perfilado à porta do tempo, 
aguardando vez de possível; 
pergunta ao vago, sem propósito 
de captar maiores certezas 
além da vaporosa calma 
que uma presença imaginária 
dá aos quartos do coração. 

A ti mesmo, nada perguntes. "

Carlos Drummond de Andrade, in 'A Vida Passada a Limpo'

segunda-feira, 11 de junho de 2012

domingo, 10 de junho de 2012

quinta-feira, 7 de junho de 2012

ninguém sabe coisa alguma

"Porque nós não sabemos, pois não? Toda a gente sabe. O que faz as coisas acontecerem da maneira que acontecem? O que está subjacente á anarquia da sequência dos acontecimentos, às incertezas, às contrariedades, à desunião, às irregularidades chocantes que definem os assuntos humanos? Ninguém sabe, professora Roux. «Toda a gente sabe» é a invocação do lugar-comum e o inimigo da banalização da experiência, e o que se torna tão insuportável é a solenidade e a noção da autoridade que as pessoas sentem quando exprimem o lugar-comum. O que nós sabemos é que, de um modo que não tem nada de lugar-comum, ninguém sabe coisa nenhuma. Não podemos saber nada. Mesmo as coisas que sabemos, não as sabemos. Intenção? Motivo? Consequência? Significado? "

(Philip Roth, in "A Mancha Humana")

white cloud

terça-feira, 5 de junho de 2012

spleen

"Quando o cinzento céu, como pesada tampa, 
Carrega sobre nós, e nossa alma atormenta, 
E a sua fria cor sobre a terra se estampa, 
O dia transformado em noite pardacenta; 

Quando se muda a terra em húmida enxovia 
D'onde a Esperança, qual morcego espavorido, 
Foge, roçando ao muro a sua asa sombria, 
Com a cabeça a dar no tecto apodrecido; 

Quando a chuva, caindo a cântaros, parece 
D'uma prisão enorme os sinistros varões, 
E em nossa mente em frebre a aranha fia e tece, 
Com paciente labor, fantásticas visões, 

- Ouve-se o bimbalhar dos sinos retumbantes, 
Lançando para os céus um brado furibundo, 
Como os doridos ais de espíritos errantes 
Que a chorrar e a carpir se arrastam pelo mundo; 

Soturnos funerais deslizam tristemente 
Em minh'alma sombria. A sucumbida Esp'rança, 
Lamenta-se, chorando; e a Angústia, cruelmente, 
Seu negro pavilhão sobre os meus ombros lança! "

Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal" 
Tradução de Delfim Guimarães 

sexta-feira, 1 de junho de 2012