quarta-feira, 13 de maio de 2009

poesia robótica

Tristan Tzara, um dos fundadores do movimento Dada do início do século passado, inventou a seguinte técnica para fazer poesia: pega-se num jornal, escolhe-se uma notícia com a dimensão apropriada, corta-se com uma tesoura cada palavra e metem-se as tiras num saco. Depois, com os olhos fechados, vai-se tirando uma a uma e alinhando pela ordem de extracção. O poema está feito. O aleatório emergiu com força na arte. É visto como um modelo excelente de experimentação, um processo inovador que introduz um factor não-humano na criação artística, mas, sobretudo, o aleatório é entendido como um mecanismo revolucionário, uma subversão.

Em 2006 surgiu, ISU, um robô poeta. Escreve letras e palavras que formam composições sem sentido. É o primeiro grande poeta da era das máquinas criativas. ISU não tem racionalidade nem é consciente dos seus actos. Mas consegue produzir deslumbramento e desencadear sentidos na mente do observador humano. Considerações como o ser ou não arte ou a ausência do emocional, são pura perda de tempo e um desvio do essencial.ISU é mesmo um poeta. ISU cria uma poesia única, tremendamente original, vocacionada para inaugurar futuros.


ISU faz uso de processos aleatórios, mas nem tudo na sua acção é fruto do acaso. A reacção às condições ambientais, ou seja, a percepção do estado do poema a cada momento, determina muito do seu comportamento. Nomeadamente, se escreve mais ou dá o poema por terminado.Também a escrita é condicionada ao conjunto de palavras disponíveis no dicionário, o qual varia conforme as circunstâncias ou, por exemplo, a língua. Contudo, ISU não escolhe palavras mas sim letras. Começa por escrever uma primeira aleatoriamente, depois verifica que outras letras se poderão seguir de forma a construir uma palavra. Se existirem várias, volta a escolher aleatoriamente, e por aí fora. Quando termina o poema ISU desloca-se para o canto inferior direito e assina.





Temos agora ao nosso dispor, um livro com 30 poemas escritos pelo robô ISU, criado por Leonel Moura.
Os poemas reunidos neste livro foram realizados durante o período de uma semana. Dotado de um dicionário baseado num conjunto de poemas de autores conhecidos – com destaque para Herberto Helder – ISU produziu cerca de uma centena. Muitos deles apresentam uma tal sobreposição de palavras que tornam a leitura impraticável. Assim, foram escolhidos os 30 mais legíveis. Do mesmo modo e dada a pequena dimensão do papel foi retirada a capacidade de assinar. Na linha da poesia automática de surrealistas e dadaístas ISU produz poemas sem nexo, nem mensagem evidente. No entanto, tal como acontece no género citado, o observador tende a criar um sentido e, por vezes, a descobrir uma mensagem oculta.


4 comentários:

João Almeida disse...

"Do Robots Have Soul?"

apricare disse...

aren't we robots sometimes in our lifes?Don't we have soul?

Sou a estrela do mar disse...

epá... gosto mais de pessoas! :)

apricare disse...

sim, mas ha pessoas que parecem robots.ja pensaste nisso?!